terça-feira, 6 de maio de 2014

Primeiro pé fora do armário: troca de olhares

Pois bem, desde os 25 anos, decidi que já era hora de sair do armário, pouco a pouco (bem pouco a pouco rsrsrs), a medida que as ocorrências do dia-a-dia me favorecessem. Iniciei essa fase bem inseguro, pois foram anos e anos no armário, escondido. Não me sentia só inseguro, mas também confuso, pq, sinceramente, não sabia por onde começar. 

Mas uma coisa já tinha decidido: só contaria a meus pais no momento em que já tiver me relacionando mais sério com alguém. Não sabia se suportaria eventual rejeição, ficando sozinho... Aliás, não via muita vantagem em contar minha homossexualidade para minha família sem estar saindo com alguém. 

Perdido nesse novo mundo, entendia que o primeiro passo – seria ingenuidade minha? – era permitir olhar e ser olhado por outros caras, e ficar atento a esses olhares, no dia-a-dia. Achava que assim poderia ir me soltando aos poucos (“soltar” = ficar desencanado, tranquilo, mais à vontade, só isso hauahauh). 

E isso foi muito legal. Tentar descobrir se um cara é gay é divertido (hehehe), mas fazia isso com discrição, com cuidado, pois tem muitos caras que não gostam de ser olhados, levam isso pro lado da ofensa. Mas não deixava de tentar, de arriscar... Arriscar é preciso, afinal tinha e tem muito gay na mesma situação q a minha, também inseguro e nao-estereotipado, esperando encontrar alguém semelhante.

Então vamos colocar pingos nos iis: existem dois tipos básicos de olhares pra se paquerar: 1) Olhar malicioso, sensual, sedutor, aquele olhar de quem tá querendo pegar e se pegado; 2) Olhar romântico, profundo, que parece buscar algum segredo, alguma verdade escondida no olhar do outro, olhar de interesse maior, olhar mais sentimental.

Eu particularmente, vou ser sincero: era (e ainda sou rs) terrivelmente desajeitado pra fazer esse primeiro tipo de olhar, não sabia fazê-lo e ficava com vergonha, pois era (e ainda sou rs) tímido. Já o segundo olhar, reconheço que não precisava (nem preciso) fazer esforço nenhum, ele sai de mim espontaneamente, muitas vezes até sem eu querer, sem ter planejado. Por isso apostava e aposto sempre nele, acho que me dá mais segurança e confiança, pois não preciso forçar (rsrsrs).

Lembro de um dia em que eu estava numa instituição de caridade onde trabalhava como voluntário nos fins de semana e, de repente, chegou um rapaz pra conversar com a coordenadora do meu setor. Na hora que ele chegou na sala, e nos vimos, bateu na gente algo diferente, uma atração bem forte, do nada, inesperado. Trocamos um olhar muito intenso, recíproco, e duradouro. Sabe aquele olhar que congela um no outro? Essa coordenadora é bem mais velha, tava distraída na hora e nem percebeu. Eu e ele “seguramos” esse olhar por uns 15 segundos que pareceram uns 15 minutos, tamanha a intensidade. Mas ela nos interrompeu e tivemos que parar. Eles conversaram por uns breves 2 minutos e eu permaneci na sala, um pouco distante.

Na hora que ele foi embora, ele passou por mim, e trocamos novamente aquele olhar, da mesma maneira (idêntica), recíproca e intensa. Mas como foi a primeira vez q isso aconteceu comigo (depois que eu decidi viver minha homossexualidade), fiquei meio zonzo, meio sem saber o q fazer. Eu, idiota q fui, não fui atrás dele. Fiquei meio "paralizado". Eu senti que nesse último olhar ele ficou meio q aguardando se eu ia acompanha-lo até a porta e sair pra conversar com ele. Mas não fiz isso. E ele parecia ser tão legal... Dei bobeira demais da conta rs. Pelo olhar dele, tive quase certeza q ele era gay tb, embora não parecesse (não era estereotipado), tal como eu. Nunca tinha visto ele lá, acho que ele estava conhecendo a instituição.

Fiquei a semana inteira pensando nele, esperando vê-lo novamente no outro fim de semana. Mas ele não voltou mais... Achá-lo, reencontrá-lo, seria algo improvável já rs.

Ocorrências semelhantes a essa, de troca de olhares, continuaram acontecendo, e eu passei a ser um homem que espera, sim, mas não espera sentado rsrs.

Miguel Peter.

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